domingo, 22 de fevereiro de 2009

FETICHISMO DA FORMA MERCADORIA

I.
Olhava de longe,
Nem via.
Me sacudiu,
Reparei.

A parte exposta eram mistérios.
Mantinha escondidos os muito profundos
Rasos sentimentos,

Que naufragavam;
Gotas no espelho d´água que
Se quer poça,
Se quer mar profundo,
E é oceano,
É rosas boiando,
É tudo e nada:
É o que se quer que seja.

Quis que fosse, o que não poderia deixar de querer:

Quis que não fosse.

II.
Isso, antes de reparar no imenso aparato
De ferro pesado, espelhos, refletores
A deslocarem os olhares, a refletirem os brilhos,
Dela, que, pareceu-me, nem mais existiria.
Sumira faz tempo, e, pelo que se via,
Isto já não fazia a menor diferença.

Mas onde estaria, então?
Sumida de vez, extinta?
Ou quiçá escondida ainda? Por detrás de tudo,
Ainda que magra e sem forças, ou até
Forte sim, e cheia de lágrimas, cheia de sangue,
Quando alcançada fosse, se fosse,
Se não fosse de fato todo o aparato,
Os refletores inteiros, e as luzes também,
E os olhos – os meus e os dela.

III.
- Então os arrancarei!
Não, não adianta, meu bem;
Meu amor, não venha não, que
Nada deixou de ser o que era.
Não venha não, não vá,
Não vai sair por aí desarvorado só por causa disso.
E então ela era um sorriso de reflexos,
E uns olhos de saciedade, e
Uns ferrolhos de máquinas, e
Umas lâmpadas elétricas em perspectiva
Também eram ela.

E estávamos contemplando isso tudo, todo o maquinário,
Enquanto cada engrenagem era
Eu, e era ela, e
Será que isso é possível, enfim,
O fim do que nela há de não-eu?

Talvez sim, mas ainda assim,
Isso não quer dizer que tenhamos chegado
Ao para além das quintessências;
À massa disforme, ao insípido do mundo;
A ela – interiormente.

Nem que tenhamos enfim alcançado
A aridez de seus ossos,
A crueldade dos seus órgãos
A sua carne indivisa e morna,
E viva, viva, viva.

Isso não significa, meu bem,
Que tenhamos arrancado
Detrás das cortinas de Oz o mágico,
Estraçalhado suas carnes,
Deixado-lhe saltar fora os órgãos,
Arrancado-lhe os olhos,
Experimentado-lhe o sangue
(E então estaríamos sentados,
Em volta os pedaços dele,
Cansados, calmos, saciados)
Não, não, não.
Então, volte pro seu lugar, velho!,
A insipidez já não me sacia.
Agora eu a quero livre,
Libertada da busca eterna dela por detrás dela em mim.

III.
E aí, quiçá pudessem as Twin Towers
Ser um feixe de luz,
E a Microsoft se sublimasse então
Em partículas infinitas, e mesmo
Bill Gates se rarefizesse enfim completamente,
Num holograma, num vácuo.

E a World Wide Web não seria mais que
Uma realidade possível mais ainda, e

No entanto é preciso estraçalhar ainda muita gente real,
Pra que isso tudo possa ser sonhado.



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